20 de fevereiro de 2011

“É mais fácil construir crianças fortes do que reconstruir adultos quebrados”



A importância do professor no desenvolvimento infantil e na formação do caráter da criança.






A chegada do século XXI era o almejo da humanidade. Não sabíamos que chegaríamos

a ele, mas ele chegou a nós.

Os homens que viveram as décadas anteriores

são os homens do nosso presente, e questionamos suas posições ante a

educação, a saúde, a fé, a solidariedade e a família, sendo o papel desta última

o grande questionamento na sociedade atual. Como tem sido a estruturação

familiar hoje em dia? Qual o papel da família na formação do indivíduo? Que

educação de base as crianças deste século estão tendo na escola, onde muitas

famílias acreditam estar a salvação ou o remédio para sanar a dor dessas crianças

abandonadas pelo limite?





Hoje, o excesso de razão tem feito com que os pais não tenham

a convicção da correção. Psicólogos desse novo século

trazem em suas teorias o trauma da correção, afirmando

que ela, em muitos casos, pode impedir o desenvolvimento

da independência da criança, tornando-a insegura. Os pais

passam a questionar sobre o momento certo para tal correção

acontecer e se perdem no caleidoscópio de regras.

Quem transforma, hoje, as crianças em verdadeiros vencedores?

Quem são os heróis e exemplos dessas crianças,

que clamam por socorro? Quando essas crianças, na escola,

batem em um colega ou cometem pequenas infrações, será

que elas não estão gritando para serem vistas ou ouvidas e

esperam que alguém diga: “Basta!”?





Infelizmente, chegamos a um momento em que deixamos a

educação ser fanada por passeios em shoppings, no Google,

no UOL e em tantos outros sites que substituem os pais,

sites estes que têm sido o livro de ética entre as crianças e

os adolescentes do mundo atual.

E pergunto: o que os pais

e educadores têm a dizer? O título do clássico do cinema

americano Assim Caminha a Humanidade tem sido a desculpa

mais comum entre muitos, porque, muitas vezes, eles

mesmos desconhecem onde cometeram os primeiros erros.

Cometem-se os primeiros erros quando se canta e se acha

engraçado crianças cantando melodias de fácil assimilação

que denigrem a imagem do outro. Peca-se quando se permite

que os meios de comunicação dialoguem mais com os

filhos do que os próprios pais, pois, na maioria do tempo,

estes estão simultaneamente presentes e ausentes. Será que

o limite e a repreensão agora não evitarão a mala de um

camburão no futuro? Estuda-se tanto para criar estratégias

educativas relacionadas ao limite da criança, porém, no

exato momento de colocá-las em prática, pais e educadores

não conseguem. Será que, entre os pais e educadores — educadores

porque, em muitos momentos, são também os responsáveis

por esse limite —, não existe a teoria do espelho?

Seria possível ensinar uma criança a escovar os dentes apenas

dizendo como se faz? Será que esses pais e educadores,

inflados pelo excesso de informação sobre o assunto, seriam

capazes de impor limites a essas crianças se muitos deles

não os tiveram?





Houve décadas na nossa história que foram de suma importância:

as décadas de 1960 e 1970 até meados dos anos 1980.

as essas décadas foram responsáveis pelo dilaceramento

da família. No auge das transformações sociais, quando a

principal regra era quebrar as regras impostas pela ditadura

militar, a família foi dilacerada. Ganharam-se algumas

coisas, mas se perderam os filhos. Os pais daquela época

são os filhos e avós de hoje. Houve uma mudança de comportamento

e uma inversão de respeito e valores. Tudo que

uma regra familiar, como pedir a bênção ou informar

para onde se está indo aos pais, transformou-se em algo

retrógrado. O não que era para ser dito ao autoritarismo da

ditadura passou a ser dito aos pais. A mudança na moda,

a aceitação dos excluídos, a nivelação social, os hippies, o

topless, as drogas, tudo isso transformou a atitude e o comportamento

dos filhos. Infelizmente não entenderam que a

liberdade pela qual lutavam era a liberdade do respeito ao

outro.

O não é tão importante na imposição do limite como

o dar de mamar, que cria a defesa imunológica. O não de

hoje com certeza fará um adulto forte no futuro.

Aprender a receber um não ensinará a criança que a vida

nem sempre lhe dirá um sim, evitando frustrações. Aprender

a receber um não é aprender a dizê-lo também. A criança

que aprende a receber um não também o dirá às drogas, ao

álcool, ao sexo prematuro — evitando tornar-se um adulto

ninfomaníaco —; dirá não aos pequenos furtos, à desonestidade,

à falta de respeito, à mentira. Dirá não a tudo que

tentar substituir os pais.

O problema é que ser pai é muito mais do que apenas

ser “bonzinho” com os filhos. Ser pai é ter uma função

e responsabilidades sociais perante nossos próprios filhos

e a sociedade também.

Portanto, quando decido

negar uma roupa a mais a um filho, mesmo podendo

comprar e sofrendo por dizer-lhe “não”, porque ele já

tem outras dez ou vinte, estou ensinando que existe

um limite para ter. Estou, indiretamente, valorizando

o ser [...]. Porque, para ter tudo na vida quando

adulto, fatalmente ele terá que ser um indivíduo extremamente

competitivo e provavelmente com muita

“flexibilidade” ética. Caso contrário, como conseguir

tudo? Como aceitar qualquer derrota, qualquer “não”,

se nunca lhe fizeram crer que isso é até normal? ( ZAGURY,

Tania. Os Direitos dos Pais: Construindo Cidadãos

em Tempos de Crise. p. 31–32).

São sempre necessários os momentos quase únicos durante

a semana ou os finais de semana, como comer sempre à

mesa, falar do dia de trabalho, dos amigos da escola dos

seus filhos. As relações interpessoais são de fundamental

importância. Os pais têm de lembrar que ordem dada é ordem

jamais tirada, independentemente de quem a tenha

dado. Há crianças que são criadas por tios, babás e avós,

e a presença dos pais é motivo para os conflitos familiares,

com eles sempre lembrando: “O filho é meu, é a mim que

ele tem de obedecer”.

O que chamamos de falta de limite nada mais é do que uma

forma de dizer “Olhem pra mim, estou aqui, me socorram”.

As crianças pedem socorro, os adolescentes clamam. As

crianças não precisam de manual para ser compreendidas,

precisam de pais compromissados. Os pais precisam saber

que há uma enorme diferença entre criar e educar. Crianças

educadas são fortes emocional e fisicamente, crianças criadas

são apenas fortes fisicamente e gastam essa energia de

forma errônea.



O adulto problemático de hoje foi a criança sem limite

do passado; o péssimo pai de hoje foi a criança que não

viu um gesto de perdão entre os pais; o adulto que vemos

hoje em CPIs, envolvido em casos do mensalão, com certeza

foi uma criança sem limite. O narcisismo nas academias, as

cirurgias plásticas, os silicones são formas de aquela criança

que pedia socorro ser vista e amada. O lar conflituoso fará

adultos conflitantes consigo mesmos.





Limitar é ensinar a tolerar frustrações. É prevenir para

que, no futuro, uma dificuldade qualquer não se transforme

em uma barreira intransponível.

Limitar é ensinar que todos temos direitos, mas deveres

também. Limitar é mostrar que o outro também

deve ser considerado quando nos decidimos a agir, que

nunca devemos pensar apenas em nós mesmos, mas,

sim, compreender que vivemos em grupo — ou seja,

convivemos. É, antes de tudo, preparar nossos filhos

para o exercício da cidadania. É, pois, uma parte importante

do trabalho educacional da família. Um pai e

uma mãe conscientes não se deixam levar pelo medo do

que está acontecendo por aí afora; ao contrário, tudo o

que acontece na sociedade deve servir de base para encontros

e conversas com os nossos filhos. E, finalmente,

dar limites é dar responsabilidade, o que implica tornar

nossos filhos, mais cedo, adultos responsáveis (ZAGURY,

Tania. Encurtando a Adolescência. p. 45).

Os limites dados à criança diminuiriam, com certeza, os

problemas de incesto, divórcio, falta de compromisso com

as dívidas a serem pagas, o limite nos cartões de crédito, a

violência no trânsito, os casos de crimes passionais, a falta

de respeito ao outro, e, sem sombra de dúvida, os divãs ficariam

solitários, e os presídios como meio de reeducação

deixariam de ser o lar daqueles que foram órfãos de pais

vivos.

Então, se o desejo da sociedade é construir homens fortes,

precisamos rever nossos conceitos educacionais e travar

uma batalha contra essa invasão inovadora da modernidade

— em que tudo parece ser normal. Os pais estão perdendo os

filhos para um fantasma que os assombra por muito tempo,

e eles não sabem como exorcizá-lo: o fantasma da ausência.

O mundo acelerado exige que se trabalhe cada vez mais

para que os filhos possam ter mais. Porém, será que apenas

isso os satisfaz? Será que não seria muito mais significativo

para uma criança uma conversa ao pé da cama ou um beijo

de boa-noite do que um celular novo? Será que uma visita

repentina à escola não faria mais efeito do que o comparecimento

na festa de final de ano? Existem educadores que

nunca viram os pais dos seus alunos. A escola passou a ser

um orfanato.

Os complexos dos adolescentes e adultos — baixa autoestima;

a insegurança para dar os primeiros passos, escolher

uma profissão, mudar de emprego; ou até mesmo fáceis tarefas

como escolher uma roupa — serão sempre reflexo da

infância sem limite. Quando percebermos que a solução para

esses conflitos é o seio de uma família bem alicerçada pelo

respeito, pelo amor e pelo afeto ao próximo, grandes conflitos

mundiais serão solucionados, porque todos eles são de

ordem pessoal. Será difícil construir uma rocha, mas colher

migalhas perdidas no caminho será sempre impossível.





Referências Bibliográficas

ZAGURY, Tania. Encurtando a Adolescência. 10. ed. Rio de Janeiro:

Record, 2004.





Os Direitos dos Pais: Construindo Cidadãos em Tempos

de Crise. 8. ed. Rio de Janeiro: Record, 2004.





¹ Essa citação é de autoria de Frederick Douglass (1818–1895), um

abolicionista, estadista e escritor afro-americano.





Fonte: http://www.construirnoticias.com.br

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